sábado, 11 de abril de 2009

Capítulo II - O Outro Lado


Sabe, você já teve a impressão de estar sendo observado? Olhando o mar, andando na rua, contemplando as estrelas, conversando sozinho, andando na rua, andando na rua... noite. Há cerca de um mês atrás, lá estava eu pronto para realizar meu trabalho, mostrar a mais um o fim... Era noite, e eu já estava parado à algum tempo na esquina de uma rua, onde não havia muito movimento, a não ser dos carros que passavam na avenida que ficava próxima a um rio, poluído, como todos. Patético... Francamente, não entendo o motivo de tanta destruição do meio onde eles vivem. Olhei para o céu, e ao voltar meus olhos para a avenida, pude ler em uma placa, a qual eu estava encostado, o nome da rua em que me encontrava. "J". Rua "J" era o seu nome. A noite estava fria...

Ao longe, pude ver quem eu esperava. Sabia exatamente o momento em que chegaria. Restava apenas esperar o momento certo, e então, ele iria começar a ver a vida de um modo diferente, e talvez, finalmente sair da ruína em que se encontrava. Agucei meus olhos azuis para poder ver melhor algo que me chamou a atenção. Afastei com a mão esquerda meus cabelos negros, que atrapalhavam minha visão e tal foi o meu espanto quando vi que por trás daquele homem, vinha também outro ser... E esse tinha olhos amarelados e vivos, pela vermelha escura e que mais parecia uma crosta. Um sorriso malicioso eu podia ver com meus olhos de visão perfeita, e duas assas feitas, ao que parecia algum tipo de pele, saiam das suas costas. Porém, estavam fechadas e tocavam os pés de grandes unhas dele vez ou outra. Seu cabelo era curto e emaranhado, e seu corpo forte e imponente. Era um demônio tal ser. E não fosse eu acostumado com esses seres sempre acompanhando humanos em desgraça, ficaria apavorado com a cena. Mas não eu, não eu, um anjo. Um anjo negro. Um anjo da morte...

Pude ver que aquele demônio havia sussurrado algo ao ouvido do homem, e temi que ele já tivesse me descoberto. Mas, ao ver que o homem apenas havia acendido um cigarro, eu logo me acalmei. Começaria a chover - e tinha acabado de começar - em pouco tempo, e demônios adoram atazanar os humanos com tais brincadeiras. Acender um cigarro para logo depois ele ser molhado pela chuva... Humor tedioso dessas feras bizarras. Foi então que após aproximarem-se ainda mais, eu senti um fogo queimando meus olhos, fazendo minha ira e minhas feições se enrijecerem, e mesmo eu estando na forma de uma criança, poderia fazer temer-me o mais corajoso dos homens. Eu havia sido displicente, e fatalmente o demônio acabara de me ver. O encontro de nossos olhares fulminantes fez, tenho certeza, aquele ser baforar com ódio, pois o homem havia acabado de se paralisar, feito uma estátua. Também me percebera, e embora vê-se uma criança, ao contrário do demônio que me via como eu era de verdade, talvez tenha pensado que fosse outra coisa, pois tinha hesitado em continuar a andar, até que novamente após ouvir palavras do demônio que o acompanhara, mesmo sem saber e sem sentir tal ação do mal, resolveu seguir enfrente, logo após eu ter, finalmente, adentrado a rua "J"...

***

Sabe, você já teve a impressão de estar sendo observado? Pensando no que fará no próximo momento, andando na rua, contemplando a escuridão noturna, fazendo algum desejo secreto, andando na rua, andando na rua... noite. Há cerca de um mês atrás, lá estava eu a acompanhar o meu mais querido amigo. Era noite, e eu já estava com ele desde que havia se retirado de um bar, minutos atrás, e estava voltando para casa, passando por aquela avenida próxima à aquele belo rio... Ele não sabia que eu estava ao seu lado, e nem acreditava em mim. Porém, eu estava sim com ele, e acreditava, e muito, nele. Como sempre, desde sempre, estava tudo muito quente, e por mais que eu soubesse que meu companheiro estivesse com muito frio, ao ver que ele vestia um sobretudo preto, eu não sentia frio algum. Apenas o calor...

Olhei para o céu. Logo percebi que havia de chover em instantes. Sorri, pois estava na hora de me divertir com aquele homem. Sussurrei em seu ouvido que ele deveria fumar um cigarro, tentar se esquentar. E foi o que ele fez, para logo depois começar a chover, cada vez mais forte. Adoro ver a expressão irritada dos humanos, e sempre irritados com coisa pouca. Ainda o vi olhar para o shopping, e, curioso, tentei ver o que ele via. Mas não tinha nada nem ninguém por ali, e antes dele, eu voltei a observar o caminho que seguia, até a, já de meu conhecimento, morada daquele homem. Parei imediatamente ao ver uma figura que me fez baforar um ar quente pela boca e narinas, e logo o homem também havia se congelado, como um poste.

Aqueles olhos azuis fizeram crescer um ódio que tomou conta de todo o meu corpo. Maldito ser. Ainda mais maldito do que os anjos e os demônios era aquele ser. Seus cabelos eram totalmente negros, longos e lisos, belíssimos, mas horrendos também! Sua pele alva como a neve, emitia uma luz, mas uma luz obscura e sinistra. Vestes negras ele usava, era magro, e mesmo assim aparentava ser detentor de um poder incrível. Um par de assas, assim como eu, ele tinha. Eram de belas e pavorosas penas negras, e grandes o bastante para ter três vezes o comprimento daquele ser, ao serem abertas. Mas estavam fechadas, assim como as minhas. Era um anjo. Um anjo negro. Um anjo da morte... E ao vê-lo entrar na rua que o homem também iria seguir, eu sussurrei ao ouvido dele para que seguisse a criatura, para ele um garoto - Mas que ele pensava ser outra coisa, devido ao seu temor. Eu também estava com um temor, pois uma batalha era eminente, e por isso, mesmo sem saber o verdadeiro motivo, o homem também estava muito nervoso e angustiado...

***

Eu já estava na última esquina antes da casa daquele que eu estava procurando, e já o via se aproximar com o demônio em seu encalço. Pobre homem, mal sabia do fardo que carregava com ele, e era por isso que eu estava ali, para mostrar para ele como se deveria viver. Eu estava escondido, mas também sabia que o demônio podia me sentir próximo, assim como eu também o percebia. Não sei, mas eu sentia que havia alguém a me observar, e não era aquele demônio ou o humano. Com certeza mais alguma coisa estava a nos observar a todo o tempo aquela noite. Não era apenas Deus, e a noite estava muito fria para uma simples noite...

***

Eu já estava me aproximando juntamente com meu companheiro humano, e os dois estavam atentos para qualquer movimento. Olhei para ele, e lembrei-me de como era estranho estar do lado de alguém que não pode te sentir, te ver. Percebia a energia do anjo negro e sabia que ele podia me sentir também, e provavelmente estava a espreita em algum local, contemplando minha chegada. Não sei, mas eu sentia que havia alguém a me observar, e não era aquele anjo da morte. Com certeza mais alguma coisa estava a nos observar a todo o tempo aquela noite. Não era apenas o Diabo, e a noite estava muito quente para uma simples noite...

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